ISTs (DSTs) no Carnaval: A Cultura dos Eufemismos e Seus Impactos na Saúde Pública
ISTs no Carnaval: A Cultura dos Eufemismos e Seus Impactos na Saúde Pública
Por Marcos Coelho – Boletim Aurora

Da DST à IST – A Mudança de Nomenclatura
As Doenças Sexualmente Transmissíveis (DSTs) sempre carregaram um estigma pesado, associado a comportamentos sexuais vistos como impróprios ou imorais. Para suavizar essa conotação, a terminologia evoluiu para Infecções Sexualmente Transmissíveis (ISTs). A mudança não é apenas semântica: reflete um esforço em destacar que muitas dessas infecções são assintomáticas e tratáveis, tentando reduzir o preconceito e incentivar a busca por tratamento.
Entretanto, essa adaptação da linguagem também é um reflexo de uma tendência cultural global de utilizar termos menos expressivos para suavizar realidades impactantes. A questão é: até que ponto essa abordagem é benéfica para a saúde pública e para a percepção social dessas infecções?
Eufemismo e Realidade: A Cultura da Suavização
No mundo atual, palavras são escolhidas com cuidado para evitar polêmicas e suavizar realidades desconfortáveis. Isso não é exclusivo da saúde pública; vemos isso em diversos setores. A expressão “crise econômica” é suavizada para “desaceleração do crescimento”, e “demissão em massa” vira “reestruturação organizacional”.
No caso das ISTs, a troca de nomenclatura buscou um tom menos alarmista, mas especialistas questionam se essa suavização não dilui a gravidade do problema. Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), a cada dia, mais de um milhão de pessoas contraem ISTs em todo o mundo. Dados do Ministério da Saúde do Brasil mostram que, em épocas festivas, como o Carnaval, há um aumento significativo na transmissão dessas infecções.
Será que o termo “infecção” passa a mesma urgência e necessidade de prevenção que “doença”? Ou estaria contribuindo para uma percepção mais leve e, possivelmente, negligente?
O Carnaval e o Aumento de Casos de DSTs
O Carnaval é uma das maiores celebrações culturais do Brasil, conhecido por festas, blocos de rua e intensa interação social. Com a combinação de álcool, festas e relacionamentos passageiros, o cenário fica propício para o aumento da transmissão de DSTs.
De acordo com dados recentes do Ministério da Saúde, o Carnaval representa um pico nos casos de sífilis, gonorreia, HPV e HIV. A explicação é simples: há um aumento nas relações sexuais casuais, muitas vezes sem o uso de preservativos.
Mesmo com campanhas de conscientização, muitos jovens ainda se sentem invulneráveis às DSTs. A mudança de nomenclatura, apesar de bem-intencionada, pode ter um efeito colateral: a percepção de que as infecções são menos graves ou fáceis de tratar, o que nem sempre é o caso.
O Papel da Educação Sexual e da Comunicação Direta
Estudos apontam que a educação sexual explícita e a comunicação direta são mais eficazes na prevenção de DSTs. Eufemismos podem, involuntariamente, enfraquecer as campanhas de conscientização.
Países como a Austrália e o Reino Unido adotam abordagens mais diretas, utilizando termos impactantes em campanhas publicitárias, o que tem mostrado resultados positivos na conscientização e na redução de casos de DSTs.
No Brasil, campanhas ainda enfrentam resistência cultural e censura. Com o crescimento de pautas globalistas em algumas regiões, a comunicação clara e direta sobre saúde sexual é vista como tabu, o que dificulta a conscientização.
Prevenção Durante o Carnaval: Estratégias e Desafios
Para o Carnaval deste ano, o Ministério da Saúde anunciou campanhas de conscientização focadas no uso de preservativos e na importância de testes regulares. Contudo, a aceitação do público ainda é um desafio.
Especialistas em saúde pública defendem que, além de campanhas tradicionais, é essencial adaptar a comunicação para plataformas digitais, utilizando influenciadores para alcançar o público jovem.
Além disso, a distribuição gratuita de preservativos em eventos carnavalescos, aliada a campanhas informativas em redes sociais, pode ser uma estratégia eficaz para reduzir a transmissão de DSTs.
Conclusão: Precisamos Falar Sobre DSTs – Sem Eufemismos
A mudança de DST para IST tem um propósito válido: reduzir o estigma e incentivar a busca por tratamento. No entanto, é preciso garantir que a suavização da linguagem não resulte em negligência à gravidade dessas infecções.
Com o Carnaval chegando, o desafio é comunicar a necessidade de prevenção de maneira clara, direta e impactante. É hora de repensar a eficácia dos eufemismos e focar em uma comunicação transparente, priorizando a saúde pública e a conscientização.
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